01/04/2024
Pesquisadores e especialistas da Saúde ainda medem os impactos emocionais e cognitivos causados pela pandemia.
Perda de entes queridos, medo de voltar a socializar, inseguranças em relação ao mercado de trabalho.
Em algum grau, pessoas de diferentes faixas etárias e classes sociais foram afetadas e sentem os reflexos desse difícil período pelo qual a humanidade atravessou.
Mas e quanto às crianças?
Como a falta de socialização influenciou no desenvolvimento da personalidade e das habilidades socioemocionais?
A falta da sala de aula presencial gerou uma maior dependência dos pais?
Neste artigo, entenda quais foram os impactos da pandemia na rotina de pais e crianças e veja 4 dicas para ajudar emocionalmente o seu filho no processo de ressocialização.
Alguns estudos já estão dando conta dos impactos que a pandemia e o isolamento social causaram no desenvolvimento de crianças e adolescentes.
Para se ter uma ideia, segundo pesquisa elaborada pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, 27% das crianças voltaram a ter comportamentos de quando eram mais novas.
Entre os exemplos de regressão estão:
Outro estudo, este elaborado pela ONG britânica Sutton Trust, mostra que 52% dos pais acreditam que a saúde emocional e as habilidades sociais dos pequenos foram prejudicadas.
Ao trazer esses dados para uma realidade mais próxima, a diretora geral do Anglo Sorocaba, Carol Lyra, afirma que o nível de ansiedade dos alunos que retornaram às aulas presenciais também tem chamado atenção.
“Percebemos que alguns estudantes passaram a ter crises de ansiedade por situações que antes eram corriqueiras, como, simplesmente, fazer uma prova. Em alguns casos é necessário chamar os pais para buscá-los, tamanha a sensação de desconforto.”
Carol também pontua que há casos de alunos que voltaram para a escola com uma necessidade extrema de socializar.
“Vimos algumas crianças demonstrarem uma empolgação quase que desmedida nos corredores e no pátio da escola. Uma felicidade extrema. Muita energia acumulada e vontade de interagir”, comenta Carol.
As regressões no comportamento, segundo especialistas, são sinais de que a criança está sob estresse e tenta, de alguma forma, pedir algum tipo de aconchego, de atenção.
A boa notícia é que embora preocupem e, de certa forma, aflijam os pais, as regressões não devem ser interpretadas como sinais de que a criança terá para sempre problemas em seu desenvolvimento.
Muito mais do que adultos, crianças têm uma capacidade chamada plasticidade cerebral, ou seja, se recuperam rapidamente quando são estimuladas e se sentem seguras.
Antes de prestar atenção nas dicas para ajudar o seu filho, que tal refletir sobre como você está se sentindo e o quanto foi impactado emocionalmente por esse período?
“A gente não pode esquecer que os adultos também sofreram com a pandemia e saíram fragilizados por medo de perder entes queridos, contrair a doença ou perder o emprego. E adultos emocionalmente abalados têm, sim, dificuldade de lidar com as crianças”, reflete a diretora Carol Lyra.
Para ela, é preciso fazer a seguinte pergunta:
“O quanto eu preciso de ajuda antes de ajudar meu filho?”
“É a alusão à máscara de avião. Primeiro você coloca em você mesmo e depois ajuda os outros”, complementa Carol, reforçando a importância de processos de terapia para apoiar os pais a trabalhar a saúde mental.
Acolhimento e afeto. Essas duas palavras são essenciais na hora de ajudar o seu filho nos desafios da ressocialização.
Mas há também outras formas que você pode contribuir para o desenvolvimento dos pequenos. Confira:
Especialistas indicam que a partir dos 4 anos as crianças já podem começar a desenvolver o autoconhecimento e, especialmente, as situações que lhes causam tristeza, alegria, raiva, entre outras emoções.
Isso é extremamente importante para que consigam nomear as suas emoções.
Você também pode usar o desenho preferido dele ou algum filme para fazê-lo reconhecer as emoções dos outros.
Quando o desenho terminar, pergunte:
“O que você acha que aquele personagem sentiu com determinada situação?”
Ao identificar alguma situação de estresse, que tal ensinar uma técnica de relaxamento ou exercício de respiração?
Quando as crianças são incentivadas a entender sobre seus sentimentos desde cedo, começam a desenvolver empatia e aumentam o repertório de alfabetização emocional.
Mesmo que a rotina das crianças tenha sido retomada e que a vida social delas, agora, voltou a ser mais agitada, é importante que os pais não esqueçam de acompanhar e estar junto.
Conversar sobre como foi o dia, ler uma história, ouvir o que ela tem para falar são práticas que contribuem não só para o estreitamento do vínculo, mas para trazer a sensação de segurança aos filhos.
Aprender a fazer as coisas por conta própria é um exercício fundamental para que as crianças aumentem a autoestima e, claro, passem a “desapegar” da constante necessidade dos pais.
Um bom começo é dar ao seu filho a chance de escolha.
No café da manhã, sugira:
“Você pode escolher entre iogurte ou cereal com leite para o café da manhã.”
Essas pequenas tomadas de decisão podem ajudar os pequenos não só a entenderem o que querem, mas a ganhar mais confiança no espaço social.
Interagir com o seu filho através de brincadeiras positivas pode ser uma excelente maneira de ajudá-lo a também desenvolver habilidades importantes para a ressocialização.
Que tal propor algum tipo de jogo de tabuleiro, por exemplo?
Uma noite de jogos em família pode ser uma excelente forma de ensinar a importância da empatia, de seguir regras e ainda trabalhar em equipe.
Como observamos, a pandemia foi – e ainda é – um período de muitos desafios emocionais a ser atravessado.
Em casa, é importante que os pais estejam muito atentos, primeiro com o que estão sentindo – e se não precisam de uma ajuda psicológica – e, claro, com o desenvolvimento das crianças dentro e fora de casa.
Importante, também, que conversem com os professores da escola em que o filho está matriculado e avaliem juntos sobre a necessidade de acompanhamento profissional com um psicólogo ou mesmo com o pediatra da criança.
Lembre-se: apesar de algumas dificuldades, as crianças são adaptáveis e aprendem muito rápido, especialmente se receberem segurança e acolhimento.