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01/12/2025
O ambiente escolar oferece diariamente situações que testam a capacidade das crianças de lidar com frustrações, perdas e contrariedades. Essas experiências, quando acompanhadas de orientação adequada, constroem a resiliência, habilidade fundamental para formar adultos equilibrados e preparados para as adversidades da vida. A escola, ao lado da família, tem papel determinante nesse processo de desenvolvimento emocional que começa na infância e se reflete por toda a existência.
As interações diárias entre colegas geram oportunidades valiosas para exercitar a força emocional. Dividir materiais, esperar a vez na fila, aceitar quando outro colega é escolhido para uma atividade ou lidar com a frustração de não conseguir resolver um exercício são situações aparentemente simples, mas essenciais para o amadurecimento. Cada uma dessas vivências representa uma chance de aprender que nem sempre as coisas saem como planejado e que é possível seguir em frente mesmo diante de contrariedades.
Os jogos e brincadeiras coletivas merecem destaque especial. Perder uma partida, ver o time adversário comemorar ou ficar de fora de uma rodada exige da criança a capacidade de regular suas emoções e compreender que a derrota faz parte do aprendizado. Quando o educador media essas situações com sensibilidade, ensina a parabenizar o vencedor, reconhecer o próprio esforço e tentar novamente, está contribuindo diretamente para o fortalecimento da resiliência.
A forma como os professores e coordenadores reagem aos conflitos e dificuldades das crianças define o tom do aprendizado emocional. Escutar com atenção, validar os sentimentos e ajudar a nomear o que está sendo sentido são atitudes que fazem diferença. Quando uma criança chora porque perdeu o jogo, minimizar a situação dizendo "isso não é nada" invalida sua emoção. Por outro lado, acolher com frases como "entendo que você está triste, perder é difícil mesmo" cria um espaço seguro para a expressão emocional.
"A escola precisa ser um ambiente onde a criança se sinta segura para errar, tentar novamente e aprender com suas experiências. É nesse processo que a resiliência se constrói de forma natural e saudável", afirma Carol Lyra, diretora geral do Colégio Anglo Sorocaba.
Rodas de conversa, momentos de partilha de experiências e atividades em grupo permitem que as crianças percebam que não estão sozinhas em seus desafios. Ao ouvirem colegas relatando situações semelhantes, desenvolvem empatia e compreendem que faz parte da vida humana enfrentar obstáculos. Esse senso de coletividade fortalece a autoconfiança e reduz o medo do fracasso.
A estrutura do ambiente escolar contribui para a construção da segurança emocional. Rotinas claras, regras bem definidas e consequências proporcionais ensinam que as ações têm resultados e que é possível prever o que acontece em determinadas situações. Essa previsibilidade reduz a ansiedade e permite que a criança desenvolva um senso interno de organização e responsabilidade.
Quando uma criança bagunça o espaço coletivo e é convidada a ajudar na organização, ela aprende sobre consequências sem experimentar humilhação ou punição severa. Esse tipo de abordagem ensina que erros podem ser corrigidos e que todos têm responsabilidade sobre o ambiente compartilhado. A consistência nessas práticas constrói confiança e prepara para situações futuras mais complexas.
Desenhos, teatro, música e outras formas de expressão artística funcionam como canais seguros para que as crianças elaborem emoções difíceis de verbalizar. Ao criar um personagem que enfrenta desafios semelhantes aos seus ou ao desenhar uma situação que causou tristeza, a criança processa internamente o que viveu e encontra formas de ressignificar a experiência.
A literatura infantil também desempenha papel importante. Histórias que abordam perdas, superação, frustrações e esperança permitem identificação com os personagens e reflexão sobre situações análogas. Depois da leitura, conversas mediadas pelo professor ajudam a criança a conectar a narrativa com sua própria vida e a perceber que outras pessoas passam por dificuldades semelhantes.
Crianças observam constantemente o comportamento dos adultos ao seu redor. Professores que demonstram serenidade diante de imprevistos, falam abertamente sobre seus sentimentos e mostram como buscam soluções ensinam mais do que qualquer discurso sobre resiliência. Se um educador perde a paciência facilmente ou evita situações desafiadoras, transmite a mensagem de que não é possível lidar com adversidades de forma equilibrada.
O contrário também é verdadeiro. Quando um professor reconhece um erro, pede desculpas e mostra que está aprendendo com a situação, oferece um modelo poderoso de comportamento resiliente. Essa transparência humaniza o adulto e mostra à criança que todos cometem falhas e que o importante é a forma como se reage a elas.
A neurociência comprova que o cérebro infantil se desenvolve em resposta às experiências vividas. Situações que envolvem frustração moderada, espera, pequenas perdas e recuperação emocional criam o que os especialistas chamam de estresse positivo. Diferente do estresse tóxico, que causa danos, o estresse positivo fortalece as redes neurais responsáveis pela regulação emocional e pela capacidade de enfrentamento.
Isso significa que privar a criança de qualquer contato com dificuldades não a protege, mas a deixa despreparada para os desafios inevitáveis da vida. A escola, ao criar um ambiente controlado onde essas experiências acontecem com supervisão e apoio, oferece o treino emocional necessário para o amadurecimento saudável.
Desenvolver resiliência não significa tornar a criança insensível ou ensiná-la a suportar tudo sem reclamar. O objetivo é criar espaço para que ela compreenda o que sente, desenvolva empatia consigo mesma e com os outros, aprenda a esperar quando necessário e confie em sua capacidade de superação. Resiliência envolve sentir a emoção, processá-la de forma adequada e encontrar caminhos construtivos de ação.
Uma criança resiliente chora quando está triste, demonstra raiva quando se sente injustiçada, mas também aprende a buscar soluções, pedir ajuda e reconhecer que os momentos difíceis são temporários. Ela entende que algumas perdas abrem espaço para novidades e que o crescimento muitas vezes vem acompanhado de desconforto.
O trabalho de desenvolvimento da resiliência só alcança resultados consistentes quando há alinhamento entre escola e família. As crianças precisam perceber que os adultos que as rodeiam compartilham valores e práticas semelhantes. Se em casa os pais protegem a criança de qualquer frustração e na escola ela é incentivada a enfrentar desafios, a mensagem se torna confusa.
Reuniões periódicas, comunicação transparente sobre situações do cotidiano escolar e orientações sobre como lidar com conflitos em casa fortalecem essa parceria. Quando pais e educadores trocam informações sobre as reações da criança, conseguem ajustar as estratégias de apoio e oferecer suporte mais eficaz.
A resiliência não se desenvolve de uma hora para outra. Ela é construída ao longo dos anos, em pequenas doses diárias de enfrentamento, acolhimento e aprendizado. Cada situação superada adiciona uma camada de força emocional que servirá de base para os desafios seguintes. Por isso, é fundamental que a escola mantenha a consistência nas práticas educativas e que os educadores estejam preparados para lidar com as emoções infantis de forma respeitosa.
Ambientes onde o erro é visto como oportunidade de crescimento, onde as tentativas são valorizadas tanto quanto os acertos e onde cada criança é respeitada em seu ritmo próprio de desenvolvimento favorecem a construção da resiliência. Pressões excessivas, comparações constantes e expectativas irreais, ao contrário, fragilizam a estrutura emocional e geram insegurança.
Em um mundo marcado por mudanças rápidas e incertezas, a capacidade de lidar com adversidades tornou-se uma das competências mais valiosas. A escola que investe no desenvolvimento da resiliência não está apenas preparando alunos para provas e avaliações, mas formando pessoas capazes de enfrentar os desafios da vida adulta com equilíbrio, empatia e autoconfiança. Esse trabalho, iniciado na infância e fortalecido ao longo dos anos escolares, deixa marcas profundas que acompanham o indivíduo por toda a existência.
Para saber mais sobre resiliência, visite https://helenpsicologa.com.br/blog/saiba-como-ensinar-uma-crianca-a-lidar-com-frustracoes/ e https://www.hojeemdia.com.br/opiniao/neurociencia-e-saude/pequenas-frustrac-es-na-infancia-a-chave-para-desenvolver-resiliencia-e-inteligencia-emocional-1.980616