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07/11/2025
Nos primeiros seis anos de vida, o cérebro infantil cresce em ritmo acelerado e estabelece as conexões que permitirão à criança compreender o mundo. Essa fase, conhecida como primeira infância, é decisiva para a formação das habilidades cognitivas — atenção, memória, linguagem e raciocínio. É nesse período que o cérebro aprende a interpretar estímulos, controlar impulsos e transformar experiências em aprendizado.
Cada interação, cada palavra ou gesto conta. Quando o adulto conversa, canta ou narra o que está acontecendo, estimula o cérebro a organizar informações e formar significados. Essas conexões são o alicerce da aprendizagem formal e da alfabetização que virá depois. O modo como a criança é estimulada agora definirá boa parte de sua capacidade de concentração e de resolução de problemas no futuro.
A mente infantil não amadurece apenas com o tempo. O desenvolvimento cognitivo é resultado de estímulo e convivência. O cérebro da criança é altamente plástico — adapta-se e se reorganiza de acordo com as experiências vividas. Isso significa que ambientes ricos em linguagem, afeto e oportunidades de descoberta fortalecem os circuitos neurais responsáveis pelo raciocínio e pela memória.
Atenção, linguagem e controle inibitório são exemplos de funções que se formam nessa fase. O controle inibitório, por exemplo, é exercitado quando a criança aprende a esperar a vez ou a concluir uma tarefa antes de iniciar outra. A atenção se desenvolve em atividades que despertam interesse e exigem foco, como observar uma história até o final ou seguir instruções simples. Já a linguagem cresce nas conversas cotidianas, nas perguntas curiosas e na escuta atenta dos adultos.
Esses processos, aparentemente simples, preparam o terreno para a alfabetização. Antes de reconhecer letras, a criança precisa compreender que as palavras têm sons e significados, que uma história tem sequência e que as ideias podem ser expressas em ordem lógica.
O brincar é o motor da aprendizagem na primeira infância. Ao brincar, a criança experimenta papéis, cria hipóteses, lida com regras e exercita o pensamento simbólico. Quando monta blocos, inventa personagens ou brinca de roda, está desenvolvendo raciocínio, coordenação, linguagem e imaginação — ao mesmo tempo em que aprende a lidar com frustrações e a negociar com outras crianças.
“Brincar é uma forma natural de aprender. Cada interação, cada tentativa e cada erro fazem parte da construção do pensamento e da formação da autonomia intelectual”, destaca Carol Lyra, diretora geral do Colégio Anglo Sorocaba. Essa perspectiva reforça que o desenvolvimento cognitivo não se dá apenas em momentos planejados de ensino, mas em toda situação em que a criança observa, experimenta e descobre.
A brincadeira também tem impacto direto na autorregulação emocional. Quando algo não sai como o esperado, a criança precisa controlar impulsos, pensar em alternativas e tentar de novo. Essa prática cotidiana de resolver pequenos desafios é o primeiro passo para enfrentar situações mais complexas nos anos seguintes.
Cérebro e emoção trabalham juntos. Uma criança só consegue aprender de forma plena quando se sente segura e acolhida. O vínculo estável com os adultos — seja em casa, seja na escola — cria o ambiente emocional adequado para explorar o mundo sem medo.
O estresse constante, por outro lado, interfere na memória e na atenção. Rotinas previsíveis e relações afetivas equilibradas ajudam o cérebro a se concentrar no que realmente importa: aprender. Dormir bem, ter horários definidos e momentos de conversa com os pais são práticas que favorecem o amadurecimento cognitivo.
A segurança emocional permite que a criança se concentre, lembre informações e expresse ideias com clareza. É por isso que o cuidado afetivo e a rotina equilibrada são tão importantes quanto o estímulo intelectual nessa fase.
A escolha da primeira escola é uma das decisões mais importantes para a família. Nesse período, o ambiente educacional tem grande influência sobre a formação do pensamento e do comportamento. Um espaço que valoriza o diálogo, a curiosidade e o brincar estimula o desenvolvimento de atenção, memória, linguagem e controle emocional.
O contato diário com outras crianças amplia as experiências de convivência. Compartilhar brinquedos, resolver conflitos e participar de atividades coletivas ensinam noções de cooperação e empatia. Ao mesmo tempo, ajudam a desenvolver raciocínio lógico e linguagem.
“Durante a primeira infância, a escola deve oferecer oportunidades para que as crianças explorem, criem e se expressem livremente”, afirma Carol Lyra. “É dessa forma que elas constroem confiança, autonomia e o prazer de aprender”, completa.
A escola exerce também um papel de mediação. Professores que nomeiam ações, fazem perguntas e incentivam as crianças a explicarem o que pensam ajudam a transformar experiências concretas em pensamento organizado. E esse pensamento organizado é o que permitirá compreender textos, relacionar ideias e resolver problemas na alfabetização.
Família e escola compartilham a responsabilidade de favorecer o desenvolvimento cognitivo. Quando os dois ambientes mantêm diálogo constante, a criança encontra continuidade nas experiências de aprendizado.
Os pais não precisam repetir em casa as atividades escolares. O mais importante é conversar, estimular a curiosidade e valorizar as pequenas conquistas. Uma ida ao mercado pode se transformar em exercício de contagem; um passeio no parque, em aula sobre cores e texturas. O essencial é transformar o cotidiano em oportunidades de pensar e descobrir.
A comunicação aberta entre educadores e famílias ajuda a compreender o ritmo e as necessidades de cada criança. O desenvolvimento cognitivo não acontece de forma uniforme — cada criança tem seu tempo e suas formas de aprender. Respeitar esse tempo é parte do processo.
O Dia Nacional da Alfabetização, comemorado em 14 de novembro, é um lembrete de que o aprendizado não começa quando a criança aprende a ler e escrever, mas muito antes. A alfabetização formal é a continuidade de um processo que se inicia na primeira infância, quando o cérebro constrói atenção, memória e linguagem.
O poder transformador do aprender está justamente nesse início: nas palavras ditas em voz alta, nas histórias contadas à noite, nas perguntas curiosas que recebem resposta. Aprender é compreender o mundo e organizar o pensamento. A criança que vive experiências significativas nessa etapa entra na alfabetização com confiança e repertório para continuar aprendendo.