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22/09/2025
Estudos em neurociência e psicologia da educação apontam que a música desempenha um papel significativo no desenvolvimento cognitivo, emocional e social de crianças e adolescentes. Ao estimular diferentes áreas cerebrais de forma simultânea, a música favorece desde a concentração e a memória até a empatia e a criatividade. No contexto escolar, ela se torna um recurso valioso para potencializar a aprendizagem e promover bem-estar.
O cérebro de crianças e adolescentes passa por intensas transformações estruturais e funcionais. Entre os 12 e 18 anos, por exemplo, regiões responsáveis por planejamento, linguagem, emoções e tomada de decisões estão em plena reorganização. A música, ao ativar áreas cerebrais relacionadas à audição, coordenação motora, memória e raciocínio lógico, contribui para que essas conexões se tornem mais eficientes.
Pesquisas mostram que jovens envolvidos em atividades musicais desenvolvem maior sensibilidade auditiva, compreensão verbal mais apurada e facilidade de expressão. Isso ocorre porque tocar um instrumento ou cantar exige leitura rítmica, interpretação sonora e coordenação física, estimulando o cérebro de forma ampla. Esse tipo de treino mental fortalece circuitos neurais que também são utilizados para a aprendizagem de línguas, interpretação de textos e resolução de problemas matemáticos.
A relação entre música e desempenho escolar tem sido tema de diferentes estudos. Alunos que têm contato frequente com práticas musicais apresentam melhor capacidade de concentração e maior disciplina para organizar o tempo de estudo. Isso acontece porque a música contribui para a autorregulação emocional, diminuindo a ansiedade e favorecendo estados mentais mais propícios à aprendizagem.
Muitos estudantes relatam que conseguem manter o foco por mais tempo quando ouvem músicas instrumentais ou com poucas variações melódicas enquanto estudam. Gêneros como música clássica, jazz instrumental, lo-fi e trilhas sonoras sem letra criam um ambiente sonoro que reduz distrações externas e estabiliza o ritmo cardíaco e a respiração. Esse equilíbrio fisiológico impacta diretamente a capacidade de absorver e reter informações.
A prática musical ativa também reforça a memória. Aprender conteúdos por meio de canções, rimas ou composições próprias favorece a fixação do conhecimento, especialmente entre crianças pequenas e adolescentes que têm facilidade de aprendizagem auditiva. É por isso que métodos de alfabetização e ensino de idiomas frequentemente utilizam músicas como apoio.
Além dos ganhos cognitivos, a música tem papel fundamental no desenvolvimento emocional. A adolescência é um período marcado por intensas transformações internas, dúvidas e necessidade de pertencimento. Nesse cenário, a música funciona como canal de expressão e autorregulação.
Ouvir canções que refletem sentimentos pessoais ajuda os jovens a lidar com frustrações, alegrias e inseguranças. A música atua em áreas cerebrais responsáveis pela liberação de dopamina e serotonina, neurotransmissores relacionados ao prazer e ao bem-estar. Por isso, ela é tão presente em momentos de relaxamento, comemoração ou superação emocional.
O contato ativo com a música — seja tocando um instrumento, compondo ou participando de grupos musicais — promove autoestima e autoconfiança. Essa experiência criativa permite que crianças e adolescentes expressem suas emoções de forma segura e construtiva, além de desenvolverem empatia ao trabalhar em conjunto com colegas. “O aprendizado musical ajuda os estudantes a desenvolverem habilidades emocionais e sociais que serão úteis por toda a vida, como colaboração, sensibilidade e disciplina”, afirma Carol Lyra, diretora geral do Colégio Anglo Sorocaba.
A presença da música na educação não precisa se restringir a momentos isolados. Professores podem utilizá-la para conectar diferentes áreas do conhecimento, tornando o aprendizado mais dinâmico e significativo.
Em história, por exemplo, músicas de diferentes épocas ajudam a compreender contextos culturais e políticos. Em língua portuguesa, letras de canções podem ser analisadas como textos literários, explorando rimas, metáforas e recursos linguísticos. Em matemática, ritmos e compassos musicais permitem trabalhar conceitos de frações, proporções e sequências numéricas de maneira prática e envolvente.
Quando integrada ao currículo de forma criativa, a música transforma o ambiente escolar, tornando-o mais acolhedor e estimulante. A aprendizagem deixa de ser apenas intelectual e passa a envolver aspectos sensoriais, emocionais e sociais, ampliando o potencial de desenvolvimento dos alunos.
Participar de grupos musicais, como corais ou bandas escolares, ensina valores como respeito, paciência e cooperação. Ensaiar em conjunto exige escuta atenta, sincronização e responsabilidade individual para alcançar um objetivo coletivo. Essas experiências fortalecem a disciplina e a capacidade de trabalhar em equipe, competências cada vez mais valorizadas no mundo acadêmico e profissional.
Carol Lyra destaca que “a prática musical em grupo desenvolve não apenas habilidades artísticas, mas também competências sociais essenciais, como empatia, respeito às diferenças e comunicação”. Essas qualidades extrapolam o ambiente escolar, influenciando positivamente a convivência familiar e comunitária.
Com o aumento dos índices de ansiedade e estresse entre crianças e adolescentes, a música tem se mostrado uma aliada importante para a saúde mental. Atividades musicais reduzem níveis de cortisol, hormônio associado ao estresse, e estimulam estados de relaxamento.
Além disso, terapias baseadas em música vêm sendo aplicadas no tratamento de transtornos emocionais e comportamentais, auxiliando na expressão de sentimentos difíceis de verbalizar. Para estudantes que enfrentam desafios emocionais, esse contato pode representar um espaço seguro de acolhimento e criatividade.
A música também favorece a resiliência. Ao aprender um instrumento, o aluno enfrenta frustrações naturais do processo — como erros, desafios técnicos e necessidade de prática constante — e desenvolve perseverança e paciência para alcançar resultados. Essas habilidades emocionais são transferidas para outras áreas da vida, incluindo os estudos e relacionamentos pessoais.
Em diferentes regiões do Brasil, projetos sociais baseados na música têm mudado a realidade de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Ao oferecer acesso a aulas de instrumentos, canto e teoria musical, essas iniciativas promovem não apenas formação artística, mas também cidadania, autoestima e perspectiva de futuro.
Participar de uma orquestra comunitária ou de um coral escolar, por exemplo, possibilita experiências culturais que muitas vezes estavam fora do alcance desses jovens. Além do aprendizado técnico, eles desenvolvem responsabilidade, senso de pertencimento e oportunidades de socialização em ambientes saudáveis e estimulantes.
A música, nesses contextos, demonstra ser mais do que uma atividade recreativa: ela se torna ferramenta de transformação individual e coletiva, capaz de abrir caminhos para educação, cultura e integração social.
A educação musical contribui para o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, envolvendo dimensões cognitivas, emocionais, sociais e culturais. Ao estimular o cérebro, favorecer a concentração, apoiar o equilíbrio emocional e promover valores como empatia e cooperação, a música se consolida como recurso pedagógico e humano de grande impacto.
Para saber mais sobre música, visite https://www.sabra.org.br/site/musica-e-adolescencia/#google_vignette e https://leiaecocentral.com.br/sons-que-moldam-o-cerebro-a-conexao-entre-musica-e-aprendizado-infantil/