15/08/2025
Adultizaçã infantil exige resposta firme de famílias e sociedade.
Em agosto de 2025, milhões de brasileiros tiveram contato com o termo adultização infantil por causa de um vídeo do influenciador Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca. Ele denunciou casos de sexualização precoce de menores, revelando como falhas nos algoritmos das redes sociais favorecem a disseminação desse tipo de conteúdo. A repercussão alcançou o Congresso e trouxe para o centro das discussões a responsabilidade de famílias, escolas, empresas de tecnologia e autoridades.
A situação exposta não é nova, mas o alcance do vídeo escancarou a dimensão de um problema que se agrava no ambiente digital. A rapidez com que crianças são expostas a comportamentos, linguagens e padrões adultos coloca em risco o desenvolvimento saudável e a segurança física e emocional delas.
O termo se refere à antecipação de experiências e responsabilidades típicas da vida adulta para crianças e adolescentes que ainda não têm maturidade emocional, cognitiva ou física para lidar com tais situações. Isso pode ocorrer por meio de roupas e maquiagem com apelo sexual, consumo de conteúdos inapropriados, participação precoce em relacionamentos ou cobranças por atitudes e resultados que extrapolam o que é adequado para a idade.
A internet se tornou o principal catalisador desse fenômeno. Redes sociais, aplicativos de vídeo e outras plataformas digitais expõem crianças a conteúdos adultos com facilidade, e a ausência de filtros ou supervisão intensifica o risco. Quando uma criança interage com um conteúdo de estética adulta, é comum que passe a receber recomendações semelhantes, criando um ciclo difícil de interromper.
O funcionamento das plataformas digitais é baseado na personalização de conteúdo para manter o usuário conectado. Ao identificar o interesse em determinado tipo de publicação, o sistema amplia a oferta de materiais semelhantes. Essa lógica, aplicada a conteúdos que remetem ao universo adulto, acelera a exposição indevida.
Além disso, a própria dinâmica de engajamento nas redes estimula a criação de conteúdos que chamem atenção. Materiais polêmicos, ousados ou com forte apelo visual tendem a atrair mais visualizações e, consequentemente, mais retorno financeiro para os criadores. Isso leva alguns responsáveis a expor filhos de forma inapropriada, ainda que sem má intenção, em busca de audiência ou ganhos econômicos.
“É fundamental compreender que a adultização infantil não é apenas uma questão de comportamento, mas de segurança e proteção integral da criança”, afirma Carol Lyra, diretora do Colégio Anglo Sorocaba.
A exposição precoce a padrões adultos pode gerar insegurança, ansiedade e baixa autoestima. O contato constante com referências de sexualização ou exigências de maturidade pode distorcer a percepção que a criança tem de si mesma e das relações interpessoais.
Do ponto de vista emocional, a criança pode sentir pressão para corresponder a expectativas irreais, desenvolvendo insatisfação com a própria imagem e dificuldades para lidar com frustrações. No campo social, há o aumento do risco de sofrer assédio ou exploração.
A legislação brasileira, por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), assegura proteção contra qualquer forma de violação de direitos, incluindo a exposição em ambientes digitais. Isso significa que familiares, responsáveis e até as plataformas podem ser responsabilizados quando permitem ou estimulam a participação de menores em situações que colocam em risco sua integridade física, moral ou psicológica.
A prevenção da adultização infantil passa por ações contínuas e integradas. A presença ativa dos pais e responsáveis na vida digital dos filhos é essencial. Isso inclui conhecer os aplicativos e redes que utilizam, ajustar configurações de privacidade e conversar sobre riscos e limites no ambiente online.
A comunicação aberta é outro ponto-chave. Crianças que se sentem à vontade para compartilhar experiências e dúvidas tendem a alertar adultos sobre situações desconfortáveis ou perigosas. Além disso, oferecer atividades adequadas à idade — como esportes, artes e brincadeiras — ajuda a fortalecer a autoestima e a ampliar o repertório de experiências positivas.
O papel da escola é igualmente relevante. Ao incluir temas como cidadania digital, respeito nas interações e segurança online no cotidiano escolar, cria-se um espaço de reflexão que envolve também as famílias. A troca de informações entre pais e educadores fortalece a rede de proteção e permite a identificação precoce de sinais de adultização.
Importância das políticas públicas
O caso Felca evidenciou a necessidade de medidas regulatórias mais eficazes. Projetos de lei que tratam de verificação de idade para acesso a certos conteúdos, retirada rápida de materiais prejudiciais e responsabilização de plataformas estão em debate.
Mas a legislação é apenas parte da solução. É preciso investir em campanhas educativas que alcancem diferentes públicos, especialmente em regiões com pouco acesso à informação. A conscientização é uma ferramenta poderosa para reduzir a incidência de práticas que levam à adultização infantil.
Proteger a infância significa garantir que cada etapa do desenvolvimento seja vivida no tempo certo, sem que padrões adultos sejam impostos de forma precoce. Não se trata de restringir experiências enriquecedoras, mas de criar condições para que elas ocorram no momento adequado, com segurança e amparo emocional.
O episódio amplamente divulgado em 2025 serviu como alerta, mas as mudanças efetivas dependem de esforços diários de pais, escolas, autoridades e empresas de tecnologia. A preservação da infância é, em última análise, um investimento no futuro — e exige vigilância, responsabilidade e ação conjunta.
Para saber mais sobre adultização infantil, visite https://gauchazh.clicrbs.com.br/viral/noticia/2025/08/felca-e-adultizacao-saiba-o-que-aconteceu-apos-a-repercussao-do-caso-levantado-pelo-youtuber-cme9yiseu0008014lbnwnan1c.html e https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/08/13/monetizacao-exploracao-de-menores-e-redes-de-pedofilia-entenda-denuncias-feitas-por-felca.ghtml