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05/09/2025
Crianças que se aproximam demais da televisão, queixam-se de não enxergar o quadro na escola ou piscam excessivamente diante do celular podem estar apresentando sinais de miopia. O aumento desse problema visual nos últimos anos tem preocupado médicos e educadores, em especial pela associação entre o tempo prolongado em frente às telas e a progressão desse distúrbio.
A miopia ocorre quando o globo ocular se alonga além do normal, fazendo com que as imagens de objetos distantes se formem antes da retina. Como resultado, o mundo distante fica desfocado, enquanto os objetos próximos permanecem nítidos. Embora fatores genéticos sejam determinantes — filhos de pais míopes têm maior risco —, o estilo de vida moderno, marcado pelo excesso de atividades em ambientes fechados e pelo uso frequente de dispositivos eletrônicos, tem acelerado o crescimento dos casos em todo o mundo.
Estudos recentes apontam que crianças que passam muitas horas em frente a telas tendem a desenvolver ou agravar a miopia. Isso acontece porque a visão de perto, mantida por longos períodos, força a acomodação ocular e favorece o alongamento do globo ocular. Além disso, o tempo diante de tablets, celulares e computadores costuma ocorrer em ambientes internos, com pouca exposição à luz natural, fator que também contribui para a progressão do problema.
A Organização Mundial da Saúde projeta que até 2050 metade da população mundial será míope. Esse crescimento acelerado já é uma realidade em países do leste asiático, onde em algumas regiões mais de 80% das crianças apresentam o distúrbio. No Brasil, embora os números não sejam tão elevados, oftalmologistas relatam aumento expressivo de diagnósticos precoces e de crianças em uso de óculos.
A exposição solar, mesmo indireta, é reconhecida como um fator protetor. A luz natural estimula a produção de dopamina no olho, neurotransmissor que regula o crescimento ocular e ajuda a conter o avanço da miopia. Por isso, atividades ao ar livre, que envolvem olhar para diferentes distâncias, funcionam como uma espécie de “antídoto” contra os efeitos do excesso de telas.
Professores costumam ser os primeiros a notar sinais de dificuldade visual, como alunos que se aproximam do quadro ou que pedem para sentar-se sempre nas primeiras carteiras. A escola, além de observar, pode contribuir criando ambientes bem iluminados e estimulando pausas em atividades que exigem foco constante em livros ou dispositivos eletrônicos.
“A atenção aos sinais de dificuldade visual é parte do cuidado integral com a criança. Quando a escola participa desse processo, a família ganha um aliado fundamental na prevenção e no acompanhamento da miopia”, afirma Carol Lyra, diretora geral do Colégio Anglo Sorocaba. Essa integração permite que possíveis alterações sejam identificadas mais cedo, possibilitando encaminhamento médico rápido e intervenções eficazes.
A comunicação entre escola e família é indispensável. Muitas vezes, os pais não percebem os sinais em casa ou os confundem com distração ou falta de interesse. Quando o olhar da equipe escolar se soma à observação dos responsáveis, as chances de um diagnóstico precoce aumentam significativamente.
Entre os principais cuidados recomendados por especialistas está a adoção da chamada “regra 20-20-20”: a cada 20 minutos de uso de tela, fazer uma pausa de 20 segundos para olhar para um ponto distante, a cerca de 6 metros, piscando frequentemente. Esse hábito ajuda a relaxar a musculatura ocular e a reduzir a fadiga visual.
O incentivo a pelo menos duas horas diárias de atividades ao ar livre é outra estratégia eficaz. Brincadeiras em parques, caminhadas, esportes e jogos que exigem olhar para diferentes distâncias contribuem para a saúde ocular e para o equilíbrio emocional da criança.
No diagnóstico precoce, os óculos são o tratamento mais indicado, corrigindo o grau e oferecendo conforto visual. Em casos de progressão acelerada, podem ser prescritos colírios de atropina em doses baixas ou lentes especiais, como as ortoceratológicas, que moldam a córnea durante o sono. Embora a miopia não desapareça, é possível frear sua evolução e reduzir o risco de complicações futuras, como descolamento de retina e catarata precoce.
Para os adolescentes e adultos jovens, a cirurgia refrativa é uma alternativa eficaz, mas só deve ser considerada após a estabilização do grau, geralmente por volta dos 20 anos. Enquanto isso, o foco deve estar no controle da progressão desde a infância.
Cuidar da visão das crianças é uma tarefa que exige participação ativa da família, da escola e de profissionais de saúde. Limitar o tempo de tela, incentivar pausas e promover atividades ao ar livre são medidas acessíveis que fazem diferença no longo prazo.
Carol Lyra destaca que “o olhar atento ao uso das telas e a criação de rotinas equilibradas ajudam a reduzir os riscos da miopia e promovem mais qualidade de vida para as crianças”. Essa consciência coletiva fortalece os pequenos não apenas no rendimento escolar, mas também em seu bem-estar geral. Com diagnóstico precoce, orientação adequada e mudanças simples no cotidiano, é possível reduzir os impactos do excesso de telas e proteger a visão das novas gerações.
Para saber mais sobre miopia, visite https://drauziovarella.uol.com.br/oftalmologia/cresce-o-numero-de-criancas-com-miopia/ e https://pequenoprincipe.org.br/noticia/diagnostico-precoce-da-miopia-favorece-saude-ocular/